Ardeu o Lido, lugar maior da cultura suburbana.
Ir ao cinema ao Lido era toda uma aventura.
Ia-se a pé, o que implicava atravessar a zona dos lelos e a ponte sob a ribeira de Carenque. Passar mais ou menos incólume possibilitava então chegar ao cinema.
A fauna do Lido era
sui generis. Apesar de ainda não haver pipocas nos cinemas, havia sempre umas bombinhas de mau cheiro ou balões de água e sabe-se lá mais o quê, que eram lançados dos balcões para a plateia. Além disso havia sempre alguém conhecido na outra ponta da sala e era frequente a troca de bocas antes e durante o filme. Sem esquecer o verdadeiro ritual que era jogar a descobrir onde estava a publicidade x, no meio das dezenas de cartazes que ocupavam o ecrã antes das cortinas se abrirem.
Aquela sala era uma algazarra que só quem assistiu é que consegue ter ideia. No meio de tudo isto também se viam filmes. Vi lá a Pipi das meias altas (ui ui), a saga do Conan o bárbaro e Conan o destruidor (só faltou mesmo Conan o homem-rã), o ET, o Indiana Jones, o regresso de Jedi.
Anos depois, chegou o vídeo e começou o declínio do cinema Lido. Mas não do centro comercial em que aquilo entretanto se transformara. Era a época dourada do VHS vs Beta. Por incrível que hoje pareça, pagavam-se 10000$00 só para se ser sócio de um videoclube. E o videoclube do Lido dava cartas. Foi nesse videoclube que nunca consegui alugar o filme de culto
Marathon, pois era tão cobiçado que nunca estava disponível, mas ainda não perdi a esperança de o ver.
O cinema ainda foi transformado durante muitos e bons anos na dancetaria Lido. Ultimamente restava apenas o Bar Ábacos como baluarte do são e abnegado convívio que o Lido sempre proporcionou. Felizmente o bairro de Janeiro mantém muitos bares onde é possível beber uma abaladiça a horas menos próprias, a um custo quase irrisório, atendendo à categoria do serviço disponibilizado.
Todavia, de agora em diante quem quiser voltar ao
Lido terá que dizer tal como Rick disse à Ilsa:
We'll always have Paris.